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Há 50 anos atrás, a revista A Cigarra publicou uma matéria sobre o artista

10/03/2021 - Foi incluído neste domingo, dia 07/03/2021, no site do Dicionário Cravo Albin da MPB, o verbete "Renato Fialho". Com isso, o autor e compositor recebe o merecido reconhecimento por sua contribuição à Música Popular Brasileira. No verbete, consta os dados artísticos e citação das mais importantes obras do compositor.

As duas páginas reservadas ao artista.

AS CÔRES E FORMAS DE RENATO FIALHO

"Estou pessoalmente muito fascinado pelas pesquisas, e visito com interêsse as exposições e os ateliers dos artistas chamados de vanguarda. Mas procuro inventar meus próprios meios."

É de madrugada, num apartamento de salae quarto em Niterói. Enquanto a esposa, Soeli, e os dois filhos, Renato (7 anos) e Marco Aurélio (6), dormem, o bancário Renato Fialho se entrega ao prazer da pintura. "Renato gosta muito de mexer no meu material, na sala-atelier do apartamento. Parece que êle também leva jeito, e, se fôr assim, procurarei proporcionar-lhe as oportunidades que não tive".

Artista espontâneo, que não fêz aprendizado de pintura ou desenho, Fialho vai se sobrepondo às desvantagens do autodidatismo, na procura constante de uma expressão própria para formular o seu mundo de côres e formas. "A côr tem uma funçãoimportante, mas o principal é a construção do quadro". Na sua construção, dispensa, algumas vêzes, com sucesso, a côr, e tem obtido bons resultados na pureza do prêto-e-branco do desenho sôbre papel. "Fiz alguns cartões para enviar no Natal aos amigos, e o resultado foi que recebi várias encomendas".

Conhecimento e arte

Renato Fialho concorda com o pintor Reynaldo Fonseca, quando disse que o que faz de um quadro uma obra de arte não pode ser ensinado. O conhecimento da história da arte e das técnicas pode e deve, no entanto, ser ensinado".

Êsse aprendizado, com os indispensáveis subsídios históricos e técnicos, Fialho os vai adquirindo como autodidata. Suas leituras, entretanto, são diversificadas. "Fora da pintura, o que mais gosto é ler e passear. Não leio apenas sôbre história e técnicas da arte. Gosto da boa literatura. E a leitura me estimula no trabalho. Depois de ler Dostoiewski ou Stendhal, as emoções vividas pelos personagens se misturam às reminiscências de minha própria vida, e isto muitas vêzes constitui o antes de um quadro, que começa a existir dentro de mim. Gosto muito de andar, sobretudo pelos subúrbios cariocas. Quando vou à casa do meu sogro, em Irajá, encontro pessoas que não me conhecem mais, e que foram, algumas delas, companheiros de infância".

O mundo das vivências

O quadro pode ser uma marinha ou uma paisagem de morro, um alagado ou figuras, "o importante é que expresse uma vivência, o que pode ser conseguido exclusivamente pela côr".

Renato Fialho se dedica atualmente à elaboração de uma série de quadros semi-abstratos sôbre temas brasileiros. Para êle, o julgamento sôbre sua arte é importante, mas o mais importante é a realização da obra. "Para mim, vale mais pintar um nôvo quadro do que receber uma medalha como prêmio a um trabalho já feito". Em 1970 obteve medalha de bronze no Salão Nacional de Belas-Artes (SNBA), o que o surpreendeu bastante, porque dois dos três quadros enviados haviam sido recusados. "Sòmente um aceito, e... premiado. Me pareceu haver uma certa incoerência no julgamento". Em 1968 tivera três quadros aceitos, o que se repetiu em 1969, quando recebeu menção honrosa com Agua na bica.

Renato Fialho faz questão de salientar que são imaginárias as paisagens de seus quadros - "isto é, são reais para mim e para quem vê o quadro, mas não constituem cópia do natural" - , embora estejam influenciados pelas vivências da infância. O pintor nasceu na Ilha do Governador, aonde sempre vai, a passeio, e passou a infância no Irajá e Vila da Penha. "Mas a realidade pode ser diversa para quem faz e para quem vê o quadro. Por exemplo, um de meus quadros, com figuras do subúrbio carioca, acabou sendo intitulado, por um amigo, de Retirantes. Outro, em que procuro retratar um grupo de jovens, ficou sendo Novos Apóstolos.Não gosto de dar títulos. Espero ver as reações que provocam essas figuras e paisagens. Algumas vêzes, aceito palpites: e dou aquêle título que o tema sugeriu a alguém que aprecia o quadro".

Quem é

Renato Fialho é assistente técnico do Centro de Normas e Métodos do Banco do Estado do Rio de Janeiro, onde tem o encargo da programação visual da revista interna Informativo. Sua vida se resume durante a semana, entre o trabalho no Banco e o trabalho em casa, com suas tintas e seus pincéis. Nos fins-de-semana são os passeios pelos subúrbios cariocas, na captação de um pequeno mundo de outrora, que hoje aparece transfigurado nas telas dêsse pintor instintivo e vigoroso, que vai dando um recado muito próprio através de sua arte.

Texto de EDILBERTO COUTINHO
Fotos de MASAOMI MOCHIZUKI

Capa da Revista A Cigarra em que foi publicada a matéria

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